quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"É que o sol nasce pra você, me disse ele no dia em que nós estávamos deitados entre os rododendros e eu obriguei ele pela primeira vez a me pedir, sim, eu lhe dei um pedaço de bolo da minha boca e era ano bissexto como agora, sim, já passaram 16 anos, meu Deus, depois do beijo comprido que eu quase perdi o ar ele disse que eu era uma flor da montanha, sim, é que nós todas somos flores em nosso corpo de mulher, sim, e aí foi porque eu gostei dele pois entendia o que uma mulher era e dei a ele todo prazer que eu podia empurrando ele até ele pedir para eu dizer sim mas eu não respondia de saída, olhando o céu e o mar e estava pensando numa porção de coisas que ele não sabia, de pessoas com nomes que ele nunca ouvira, do meu pai, do Capitão, do mercado da rua Duque, dos burrinhos meio dormindo escorregando pela ladeira, das moças espanholas de xale, rindo, rindo, de Ronda olhando para o amante dela pelas frestas da veneziana das casas amarelas e dos jasmins de Gilbraltar, quando eu menina era como uma flor da montanha, sim quando eu botei uma rosa no cabelo como as raparigas andaluzas costumavam fazer e como ele me beijou debaixo da torre mourisca e eu pensei bem tanto  faz ele como outro qualquer, sim, e com os meus olhos eu pedi a ele pra me pedir de novo, sim, e então ele me pediu se eu deixava, sim, eu dizia sim minha flor da montanha e eu primeiro botei meus braços no pescoço dele, sim, e puxei-o pra mim para ele sentir meus seios todos perfumados, sim, e o coração dele batia como louco, e sim, eu disse sim, eu deixo, sim."

Solilóquo de Molly Bloom, do Texto Ulisses, de James Joyce

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