quarta-feira, 2 de março de 2011

Tinha cheiro de morango, porém gosto de pêra fresca ainda molhada de orvalho...
O ar rarefeito dilatava o calor da pele...
Mesmo que pisando no asfalto, sentia como se estivesse a pisar na grama úmida pela chuva de verão...
Mesmo tendo postes e prédios no meu horizonte, podia ver grandes carvalhos, pinheiros, ipês e baobás...
Dancei... Tocava Smiths no velho rádio...
Apesar da calça jeans, do tênis e da blusa, senti que vestia um vestido leve de cores claras...
Até que senti a chuva voltar, fininha, quase um carinho...
No meio do meu devaneio senti dois olhos pousados em mim...
Procurei, mas não os encontrei...
Parei, fiquei imóvel para tentar localizar de onde vinha aquele olhar... Senti de novo bem a minha frente... Corri...
Corri na direção do olhar... De quem seria?
Continue correndo entre as minhas árvores, e aquele olhar corria também, corria para que eu não o alcançasse, mas eu não ia desistir...
Corri mais rápido... A música ficava cada vez mais longe... Agora só ouvia o som da minha floresta...
Corri, até que senti uma raiz solta me segurar pelo tornozelo, gritei e cai de frente sobre as folhas secas e cheias de musgo... Girei o corpo e vi o céu por entre o topos das árvores...
Olhei as mãos, as pernas e o vestido...
Todos se sujaram de terra molhada, musgo e ganharam enfeites de folhas secas, no meio de tudo isso havia sangue, meu sangue, havia me cortado quando cai...
Agora a pele ardia dos pequenos cortes e arranhões que sofrera, deixei os braços caírem ao lado do corpo com as mãos espalmadas e olhei o céu...
Desatei a rir...
Um riso leve que amenizou a dor, ri do meu jeito desastrado e desajeitado...
No meio do meu riso, senti água sendo despejada sobre meu braço, ... Levantei de súbito, assustada...
Os olhos que eu estava procurando, estavam ali...
Jogando água sobre as minhas feridas...

Sobre os dias e noites de chuva

Sim, são melancólicos não há como negar, não há quem não pense em estar na cama assistindo um filme e talvez não importe se sozinho ou acompanhado.
O fato é que um dia ou noite de chuva. nunca passa despercebido, ninguém é indiferente a ele, uns gostam, outros não, há quem ame e há quem odeie...
Particularmente, eu não gosto. Mesmo que a chuva limpe nosso ar, encha nossos rios, alimente nossa natureza e nos permita continuar vivendo, o tom cinza do céu me incomoda. Parece que nunca mais haverá cor, alegria no mundo...
        Quem dera as nuvens fossem coloridas e as gotas furta cor. Assim, mesmo em dia chorosos, nunca perderíamos o ânimo.
        Mas o que mais incomoda aos fãs de dias ensolarados e quentes, é a presença constante do nosso maior inimigo e maior companheiro, a solidão. Aquela mão pesada no ombro que nos dias de sol são mais leves, e nos de chuva, além de pesadas, são frias. A sensação de desproteção e tristeza dos dias cinzas aproxima a solidão, um inimigo quase invencível, mas que se aprende a conviver com o tempo. Sim, pra quem sente solidão ela nunca vai embora mesmo nos dias de sol e cheios de amor, e por mais que ela castigue, você pode aprende muito com ela, se deixar que ela ensine. Mas cuidado! Não deixe ela tomar conta de você, a solidão pode ser sedutora e pode tornar todos os seus dias cinzas e chorosos.
        Hoje nesse dia de chuva, eu cantei... Cantei pra chuva e parece que ela gostou, pois senti que ela cantava comigo, batendo forte contra o asfalto. Isso manteve a solidão quieta no canto dela. Estávamos eu e a chuva cantando juntas quase em uníssono, celebrando o mundo, mesmo que esse mundo seja apenas o meu.
28/02/2011