terça-feira, 21 de setembro de 2010


Escutei a chave girando na porta...
Quem será? Mas a essa hora? Não estou esperando ninguém... Nunca estou esperando ninguém...
E de fato não era ninguém... A porta abriu sozinha e apenas o vento entrou...
Era apenas para me mostrar, que não há ninguém, que ninguém vem, que ninguém espera...
... E tudo voltou a ficar silencioso de novo...
Algum tempo depois eu andei até a porta e a fechei, havia apenas o som dos meus passos e da porta se fechando...
Nenhum outro som que indicasse uma alma viva ou penada... A minha alma estava inquieta, mas também estava muda, a um bom tempo, ela perdera a voz...
Me virei e vi no chão uma chave... Mas não era a chave da porta, era uma chave velha, grande, de ferro e um pouco enferrujada...
Passei um longo tempo olhando pra ela e pensado que diabos ela fazia ali... Não sei...
Voltei a ouvir o som dos meus passos quando andei até ela, peguei-a e meu coração disparou doendo no peito...
Mas o que é isso? O que significa isso?
Encostei a chave no peito e meu coração parecia que queria se juntar a ela, ele rasgava meu peito, queria sair...
Afastei rapidamente a chave do peito, jogando-a no chão, e meu coração começou a se acalmar, mas estava triste...
Olhei ao redor e notei outras chaves... Muitas delas, algumas iguais, outras diferentes...
O que é isso, Meu Deus?!
Havia chaves no sofá, sobre a TV, na mesinha de centro, no estante de livros, sobre o tapete, pendurada nas paredes e até nas janelas e nas cortinas...
Peguei uma a uma nas mãos... E cada uma delas provocava reações em todas as partes do meu corpo... Principalmente no meu coração e na minha cabeça... Na minha mente...
Todas aquelas sensações, sentimentos e reações estavam me tirando a consciência... Entrei em êxtase... Em pânico... Em sublimação...
De repente no meio desse turbilhão, ouço a chave girar na porta de novo... Assustada joguei as chaves no chão... Eu tremia...
Olhei para a porta mas ela não se moveu... Meu corpo começou a responder e caminhei lentamente até ela, o tempo parecia deslocado, eu ainda tremia e sentia um nó na garganta...
Com as mãos geladas abri a porta...
... Dessa vez... Tinha alguém...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Minhas mãos suavam...
Suavam sangue...
Eu suava frio, mas meu sangue era expelido pela pele ainda quente...
Eu tremia muito e mal conseguia ver...
Só conseguia olhar pra dentro...
Eu queria chorar mas não tinha forças...
Era apenas sangue...
Suor e sangue...
Meu corpo todo estava úmido e gelado...
Eu estava de pé, mas parecia que ao mesmo tempo que eu flutuava a gravidade me puxava para baixo...
Uma gravidade viva, latente, forte...
A gravidade da realidade...
Naquele momento eu entendia a real gravidade dos fatos...
Eu estava sozinha e desprotegida...
E não havia nada que eu pudesse fazer...
Eu tentava andar mas é como se tivesse agulhas em brasa sob meus pés...
Eu tentava sentar ao pé da cama, mas algo pressionava minha coluna para que eu ficasse ereta... Uma pesada mão de ferro não me deixava mover-me.
Meus dentes rangiam e o som era insuportável...
Os meus olhos deformam tudo sobre o que pousavam, as janelas, a cama, o armário, todos os objetos, o espelho... Tudo parecia derreter na minha frente...
De tudo que eu via o que mais me dava medo era do espelho...
Não queria ver o meu rosto nem meu corpo deformado...
Minhas rugas, meus olhos cansados, minha boca pálida...
Meus músculos flácidos, nem meu cabelo branco, nem meu sexo morto...
Derrepente o espelho começou a vir em minha direção lentamente...
Como se alguém delicadamente o tirasse da parece e trazia até mim...
Senti pânico e um medo absurdo, não poderia suportar...
Aquilo iria me destruir...
Fiz uma força descomunal para fechar os olhos...
E uma força maior ainda para gritar...
Minha voz saiu abafada e aguda demais, nunca escutara ela assim...
E então...
Eu acordei... E as minhas mãos ainda sangravam...